domingo, 28 de novembro de 2010

Neuroplasticidade e Envelhecimento

A neuroplasticidade é uma mudança adaptativa na função e estrutura do sistema nervoso em resposta à ação dos ambientes interno e externo, ou como resultado de lesões que afetam o ambiente neural. Como o envelhecimento parece induzir várias mudanças no cérebro ao longo do tempo, isso nos leva a pensar que o processo de envelhecimento pode ser considerado um modelo de plasticidade que pode gerar mudanças positivas ou negativas.
O cérebro envelhece por uma crescente dificuldade em sintetizar substâncias essenciais à função neuronal e pela síntese de substâncias anômalas que se depositam no tecido. Como consequência, o indivíduo pode apresentar sintomas cada vez mais acentuados de deficiências sensoriais (alterações visuais, no tato, na pressão e vibração); motoras e cognitivas (alterações de aprendizado e memória). A capacidade motora muda no idoso - a postura de um idoso é menos ereta, o andar é lentificado e os passos mais curtos. Os reflexos posturais também diminuem tornando o indivíduo mais suscetível à perda de equilíbrio e consequentemente à queda.
O peso do encéfalo pode diminuir e algumas populações de neurônios podem ter seu número reduzido pela morte celular. O comprimento dos axônios mielinizados  e o número de comunicação entre os neurônios ou mesmo entre neurônios e células musculares e epiteliais glandulares diminuem no córtex cerebral. Há redução da arborização dendrítica e da densidade de espinhos dendríticos dos neurônios piramidais. Considerando que muitas das sinapses ocorrem nos espinhos, essa diminuição de densidade pode causar prejuízos nas funções motoras e cognitivas.

 
Imagens comparativas de seguimentos de dendritos apicais em neurônios piramidais corticais de macacos jovem (A) e idoso (B), ilustrando maior densidade de espinhos dendríticos no macaco jovem comparada ao idoso. As imagens C (animal jovem) e D (animal idoso) mostram exemplos de neurônios marcados retrogradamente e reconstruídos tridimensionalmente. As setas indicam os seguimentos dendríticos analisados. (Perracini MR; Fló, CM.)
A dopamina, noradrenalina e em menor extensão, a acetilcolina e o glutamato diminuem com a idade, indicando anormalidades nos neurônios que sintetizam esses neurotransmissores.
O encéfalo envelhecido apresenta mudanças capazes de gerar efeitos positivos ou compensatórios para manutenção e preservação de algumas funções cerebrais. Com o passar do tempo, a redes neurais são reestruturadas e o sistema nervoso central simplesmente passa a ativar diferentes áreas cerebrais.
De acordo com pesquisas, para realizar uma tarefa motora simples, os idosos necessitam de mais áreas corticais quando comparado com os jovens. Quanto mais complexa e coordenada à atividade, maior é o número de áreas corticais recrutadas. Ainda, em tarefas que exigem muita coordenação, observaram uma ativação adicional de áreas responsáveis por uma monitoração cognitiva da atividade motora nos idoso sugerindo a hipótese de compensação, caracterizando um aspecto plástico do sistema nervoso.
Contrariando a idéia de que o sistema nervoso central adulto é imutável e refratário à regeneração, achados mostraram a existência de formação de novos neurônios no cérebro quando o indivíduo é exposto a um ambiente enriquecido de estímulos e quando pratica atividade física direcionada. Por outro lado, a inatividade e o desuso podem acentuar a as alterações estruturais e neuroquímicas, favorecendo o declínio motor, sensorial e cognitivo que ocorre durante o envelhecimento.
Portanto, podemos concluir que o encéfalo envelhecido apresenta aspectos plásticos negativos que podem ser compensados pelos aspectos positivo-compensatórios. Se somarmos isso às intervenções fisioterapêuticas adequadas, talvez seja possível retardar a instalação dos déficits sensório-motores e cognitivos encontrados nos indivíduos idosos.




Referência bibliográfica: Perracini, MR; Fló, CM. Funcionalidade e Envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009, p 83-89.




Um comentário: